quinta-feira, dezembro 27, 2007

CHOQUE

Talvez eu nunca me recupere do choque que é ver a existência de uma pessoa inteira, formadinha, que saiu de mim. O choque de se ter alguém que saiu de mim.
Acontece assim: à noite, chego perto do berço da minha filha e fico a observar, sob a luz fraca do abajur, aquela pessoinha. Nela há tudo que uma pessoa deve ter – penso- está lá, tudo formado, perfeito, lindo! Como algo que não existia, hoje existe por completo? Tudo aconteceu aqui dentro e saiu de mim. De mim?
Meu bebê é o maior milagre que jamais vi e o qual ainda preciso digerir.
Repito: ainda não me recuperei do choque que é ver uma pessoa que saiu de mim.

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